Duplicata escritural: um passo rumo à profissionalização definitiva do crédito no Brasil
Um novo momento do mercado se aproxima e as vantagens são muitas para as empresas que se anteciparem a essa exigência.

Por anos, o mercado conviveu com práticas pouco padronizadas no uso de recebíveis como garantia. Documentos impressos, registros paralelos, ausência de unicidade de dados e pouca rastreabilidade criaram um ambiente fértil para riscos, fraudes e insegurança jurídica. O novo modelo busca justamente o oposto: garantir que cada duplicata tenha valor jurídico, possa ser rastreada em tempo real e esteja registrada de forma única e confiável.
Esse não é apenas um avanço regulatório. É um sinal claro de que o mercado está sendo empurrado — finalmente — para um novo patamar de profissionalismo. Um patamar onde dados confiáveis, integração sistêmica e automação de processos não são diferença competitiva, mas condição básica de existência.
A mensagem para as empresas é direta: ou você adapta seus processos, ou seu crédito evapora.
A duplicata em papel já não serve mais como garantia em operações financeiras. O banco não aceita. O fundo não considera. Sem o registro eletrônico, o título simplesmente não existe. Isso significa que o capital de giro de muitas empresas, especialmente as que operam em mercados com margens apertadas e necessidade constante de liquidez, está agora condicionado a algo mais estrutural: a maturidade digital de sua operação.
E não se trata de “ficar em dia com o compliance” para evitar multas. Trata-se de construir uma estrutura confiável onde o crédito pode fluir— com menos risco, menos atrito e mais velocidade. A empresa que trata o registro como um simples “encaixe operacional” provavelmente vai perder espaço para quem o trata como base estratégica.
Não à toa, surgem soluções que buscam simplificar essa transição. E o protagonismo deixa de ser do papel e passa a ser dos dados.
Estamos vendo o nascimento de uma nova lógica no mercado de crédito: uma lógica em que a antecipação de recebíveis deixa de ser negociada com base na urgência ou na informalidade e passa a ser estruturada com base em histórico transacional, relacionamento com a cadeia e comportamento financeiro. Um crédito mais inteligente, mais transparente e menos arbitrário.
A duplicata escritural talvez seja a engrenagem menos visível dessa engrenagem. Mas é, sem dúvida, uma das mais importantes.
—Edson Silva, fundador e presidente da Nexxera