Do pedido ao pagamento: a importância da visão conectada no varejo
Por que o varejo ainda insiste em enxergar partes quando o que decide o futuro é a visão do todo.

O varejo alimentício é um dos pilares da economia brasileira — disso ninguém duvida. Estamos falando de um setor que movimenta trilhões, emprega milhões e está presente em cada canto do país. Mas, apesar do tamanho e da importância, ainda opera com uma lógica que já não se sustenta: a fragmentação da gestão financeira.
Crédito, pagamentos e relacionamento com fornecedores ainda são tratados como departamentos autônomos, com sistemas que não conversam entre si e decisões que não consideram o todo. Isso faz sentido em um mercado estático, com pouca competição e baixa digitalização. Mas no cenário atual, com margens apertadas e decisões cada vez mais rápidas, essa visão compartimentada se tornou um risco estratégico.
O fluxo financeiro de um supermercado ou distribuidor não começa quando a fatura vence. Começa no pedido. E segue passando por cada elo da cadeia: estoque, negociação, crédito, pagamento, recebível e reconciliação. Cada etapa está conectada, ainda que os sistemas e as áreas não estejam. Essa desconexão tem um custo. E ele não aparece apenas na última linha do balanço, mas na perda de agilidade, na ineficiência operacional e no aumento do risco.
O desafio, portanto, é mudar o olhar. Não se trata apenas de adotar tecnologia ou buscar soluções isoladas. Trata-se de reconfigurar a lógica financeira das empresas para que funcione como um ecossistema. Um organismo vivo, em que decisões de compra, venda ou pagamento impactam toda a cadeia. E, por isso mesmo, devem ser pensadas em conjunto.
Estamos acostumados a tomar decisões com base em históricos financeiros. Mas o futuro exige análise de dados em tempo real, previsibilidade e visão integrada. Isso significa alinhar crédito com realidade de caixa, entender o comportamento dos fornecedores e automatizar não só processos, mas relações. Significa transformar a gestão financeira em inteligência de negócio.
O varejo que vai prosperar nos próximos anos será aquele capaz de enxergar o invisível — as conexões por trás das transações. O que parece apenas uma duplicata a pagar, pode ser uma oportunidade de antecipação. O que parece apenas um fornecedor, pode ser um parceiro estratégico. Mas nada disso é possível se cada peça continuar isolada.
Hoje, podemos considerar que não existem mais apenas empresas grandes. Existem ecossistemas fortes. Uma visão sistêmica existe para fortalecer a todos.
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Edson Silva, fundador e presidente da Nexxera